Que surgiu primeiro, a mente ou a matéria?
“E assim”, disse o conferencista, “termino onde comecei. Evolução, desenvolvimento, e a lenta luta para cima e para diante, do início bruto e rudimentar para a perfeição e elaboração sempre crescentes — o que parece ser a verdadeira fórmula de todo o universo.
“Vemos isso exemplificado em cada objeto que estudamos. O carvalho vem da semente. O motor expresso gigante de hoje vem do Foguete. As mais altas realizações da arte contemporânea estão numa linha contínua de descendentes desde os rudes desenhos com os quais o homem pré-histórico adornou as paredes das cavernas.
“O que são a ética e a filosofia do homem civilizado senão uma elaboração miraculosa dos instintos mais primitivos dos tabus selvagens? Cada um de nós se desenvolveu através de lentos estágios pré-natais nos quais fomos primeiramente mais parecidos com o peixe que com os mamíferos. Viemos de uma partícula de matéria pequena demais para ser vista. O próprio homem descende das bestas; o orgânico do inorgânico. Desenvolvimento é a palavra chave. A marcha de todas as coisas é partir das mais baixas para as mais altas.” Naturalmente, nada disso era novo para mim nem para nenhuma outra pessoa no auditório. Mas foi muito bem colocado (muito melhor do queestá na minha reprodução), e a voz e figura do conferencista causavam profunda impressão. Pelo menos devem ter-me impressionado, pois de outra forma não poderia explicar o curioso sonho que tive naquela noite.
Sonhei que ainda estava na conferência, e a voz da tribuna ainda soava. Mas dizia tudo errado. Pelo menos podia estar dizendo coisas certas até o momento em que eu comecei a escutar, mas é certo que depois começou falar coisas erradas. Lembro-me de algo parecido com isto: “... parece ser a verdadeira fórmula de todo o universo. Nós a vemos exemplificada em cada objeto que estudamos. A semente vem do carvalho adulto. O primeiro motor mais primitivo, o Foguete, não vem de um motor ainda mais primitivo, mas de algo muito mais perfeito que ele próprio e muito mais complexo, a mente de um homem, e um homem genial. Os primeiros desenhos pré- históricos vêm, não dos desenhos mais primitivos, mas das mãos e do cérebro de seres humanos cujas mãos e cérebro não demonstram ter sido inferiores aos nossos. E, na verdade, é óbvio que o homem que primeiro concebeu a idéia de pintar um quadro deve ter sido um gênio ainda maior que qualquer dos artistas que o sucederam. O embrião que se desenvolveu em cada um de nós não se originou de algo ainda mais embrionário, originou-se de dois seres humanos plenamente desenvolvidos, nossos pais. Descendência, movimento para baixo, é a palavra chave. A marcha de todas as coisas é do mais alto para o mais baixo. O primitivo e imperfeito sempre surge de algo perfeito e desenvolvido”.
Não pensei muito nisso enquanto me barbeava, mas aconteceu de eu não ter nenhum aluno às 10 da manhã e, quando terminei de responder minhas cartas, sentei-se e comecei a refletir sobre o meu sonho.
Parecia-me que o Conferencista do Sonho tinha muito a dizer em seu favor. É verdade que vemos em torno de nós coisas crescerem em direção à perfeição, partindo de inícios pequenos e rudimentares, mas também é igualmente verdadeiro que esses próprios inícios pequenos e rudimentares procedem de algo desenvolvido e plenamente amadurecido. Na verdade, todos os adultos foram um dia bebês, mas todos os bebês foram gerados por adultos e nascidos deles. O milho de fato vem da semente, mas a semente vem do milho. Eu até pude dar ao Conferencista do Sonho um exemplo de que ele havia-se esquecido. Todas as civilizações procedem de inícios pequenos, mas, quando observadas, sempre permitem perceber que esses primórdios foram “deixados cair” (como o carvalho deixa cair suas sementes) por alguma outra civilização madura. As armas e até a culinária dos antigos bárbaros alemães são derivados da antiga civilização romana. O ponto de partida da cultura grega são os remanescentes de culturas minoanas mais antigas, suplementado por restos das civilizações egípcia e fenícia.
Pela primeira vez na vida, comecei a olhar para essa questão com os olhos bem abertos. No mundo que conheço, o perfeito produz o imperfeito, que novamente se torna perfeito — o ovo leva ao pássaro, e o pássaro, ao ovo — uma sucessão interminável. Se alguma vez houve vida gerada espontaneamente de um universo puramente inorgânico, ou alguma civilização se organizou de seu próprio estado selvagem, então esses eventos seriam totalmente diferentes dos inícios de cada vida seguinte e de cada civilização seguinte, respectivamente. Isso pode ter ocorrido, mas toda sua plausibilidade se foi. De qualquer ponto de vista, o primeiro começo tinha de ser exterior ao processo ordinário da natureza. Um ovo que não veio de nenhum pássaro não é mais natural que um pássaro que existiu desde a eternidade. E, visto que a seqüência ovo-pássaro-ovo não nos leva a nenhum início plausível, não é razoável procurar a origem real de tudo em algum lugar fora da seqüência? E preciso sair da seqüência dos motores e entrar no mundo dos homens para encontrar o real originador do Foguete. Não é igualmente razoável olhar para fora da natureza para encontrar o real Originador da ordem natural?1 God in the dock, p. 208-211
Esse roteiro de C. S. Lewis retrata com precisão a tarefa em mãos. Queremos saber se é razoável afirmar a existência de uma mente inteligente como a do “real Originador da ordem natural”. Estamos tentando descobrir o que veio primeiro: a mente criou a matéria, ou a matéria criou a mente? Deus criou o homem, ou o homem criou Deus? A inteligência surge da não-inteligência ou ela sempre usa inteligência para produzir inteligência?
Quais os dois modelos concorrentes da orígem da vida?
Para ser coerente com a investigação anterior, precisamos novamente fazer diferenciação entre ciência operacional e ciência das origens. Fazendo isso, devemos ser capazes de derrubar as teorias da origem da vida baseadas em hipóteses injustificáveis e sem o apoio de leis científicas e observação. Ê de vital importância ter em mente que qualquer modelo válido da origem da vida nunca viole as evidências das leis científicas obtidas pela observação. Essa regra metodológica é conhecida como princípio da uniformidade 2 (ou analogia).
O princípio da uniformidade nos diz que causas não observadas. dos eventos passados supostamente são semelhantes às causas de eventos iguais observados no presente. Por exemplo, estamos procurando um tipo de causa atual necessária para produzir uma célula simples (a primeira forma de vida) e, pelo uso devido do princípio da uniformidade, devemos presumir que o mesmo tipo de causa a produziu no passado. Enfim, aplicando corretamente as leis e as evidências observacionais da ciência operacional e os princípios da causalidade e da uniformidade, devemos ser capazes de determinar que modelo de origem descreve mais exatamente a origem da vida. Há dois modelos concorrentes de origem da vida que vamos considerar neste capítulo: o modelo macroevolutivo e o modelo do projeto.
O modelo macroevolutivo afirma que a vida auto-originou-se de matéria não- viva (inorgânica).Uma vez ultrapassado o abismo da não-vida para a vida, a primeira célula viva começou a evoluir por mudanças aleatórias em seu sistema genético de informação (mutações), adquirindo desse modo novas características que não existiam no organismo original. Este modelo será expandido com referência às novas formas de vida no capítulo seguinte. Por ora, estamos interessados no modo que ele explica a origem da vida. De acordo com este modelo, o primeiro organismo vivo evoluiu de matéria sem vida pelo ajuntamento acidental de matéria, sem intervenção de nenhuma mente superinteligente.
O modelo do projeto afirma que não-vida jamais produz vida e que as primeiras formas de vida foram a conseqüência direta de uma superinteligência. Este modelo será expandido no capítulo 8. Por ora, nosso interesse é saber de que maneira ele apresenta uma descrição mais acurada dos primórdios da vida que seja filosoficamente mais sólido e cientificamente mais preciso que a explicação macroevolutiva da origem da vida.
2 O princípio da uniformidade não deve ser confundido com a visão naturalista conhecida como uniformitarismo. O uniformitarismo presume que apenas causas naturais podem ser aplicadas aos eventos passados. Entretanto, essa hipótese não se justifica cientificamente, é uma pressuposição filosófica do naturalismo. A base do uniformitarismo é o princípio da continuidade. Ou seja, existe um continuum, uma série ininterrupta de causas físicas. Todavia, a conclusão apresentada no capítulo 5, de que o universo é finito e teve um começo, corrói a credibilidade do uniformitarismo. Essa conclusão demonstrou claramente a necessidade de uma força ou causa sobrenatural além do universo espaço-tempo para justificar a origem dele.
Para nos mantermos dentro do objetivo deste trabalho no geral, é necessário manter o enfoque de testar esses dois modelos com respeito à maneira que justificam a origem da vida. Vamos empregar a ciência operacional como guia para estabelecer o princípio primeiro da biologia molecular como a pedra fundamental do edifício de qualquer modelo de origem da vida. Uma vez que esse princípio primeiro tenha sido identificado e se mostrado verdadeiro, será combinado com outras leis científicas e evidências observacionais a fim de construir uma estrutura para um modelo de origem da vida digno de confiança. O modelo que mais precisamente justifica o enorme abismo entre a matéria não-viva e a vida, sem violar o primeiro princípio da biologia molecular, os princípios filosóficos, as leis científicas e as evidências observacionais será considerado o modelo autorizado. O melhor ponto de partida para esta investigação é o princípio, entender o que precisa ser explicado: a natureza de uma célula simples— o primeiro organismo vivo.
Darwin conhecia a natureza complexa da célula?
A biologia é a ciência que estuda os organismos vivos: sua estrutura, função, seu crescimento, sua origem microevolução.3 A menor unidade de vida, isolada ou componente de organismos vivos, é chamada célula. A biologia molecular consiste do estudo dos componentes da célula no nível molecular. Não faz muito tempo a célula era considerada uma caixa-preta, expressão usada para designar um dispositivo cujos componentes internos são misteriosos porque não são observáveis ou são incompreensíveis. E assim que Michael J. Behe caracteriza a história da biologia: uma cadeia de caixas-pretas. Behe explica:
Os computadores são um bom exemplo de caixa-preta. Quase todos nós usamos essas máquinas maravilhosas, sem a mais vaga idéia de como eles funcionam, processando textos, construindo gráficos ou jogando na feliz ignorância do que ocorre no interior delas.4
3 Estamos fazendo diferença entre o termo microevolução, que explica as mudanças ocorridas dentro dos limites biológicos naturais próprios de um tipo e como ele se adapta às mudanças de seu ambiente (variação de clima e outros fatores ambientais), e macroevolução, que extrapola essas mudanças presumindo que tipos específicos de vida não têm nenhum limite biológico natural.
4 Dawin 's black box: the biochemical challenge to evolution, p. 6.
Behe prossegue descrevendo a história da biologia como a abertura de uma caixa-preta após outra. Na metade do século dezenove, a célula ainda era uma caixa-preta na mente de Darwin e de todos os outros cientistas. Behe diz que, embora Darwin entendesse muito da biologia acima do nível celular, não tinha conhecimento do funcionamento interno de uma célula viva. Behe observa que somente após a Segunda Guerra Mundial, com a ajuda do microscópio eletrônico, as novas estruturas subcelulares foram descobertas. A mesma célula que parecia tão simples aos cientistas do passado agora era vista como uma entidade molecular extremamente complexa, equipada com usina de energia e centro de informação próprios. Behe registra:
Este nível de descoberta [as estruturas subcelulares] passou a permitir que os biólogos abordassem a maior de todas as caixas pretas. A questão de como a vida funciona não podia ser respondida por Darwin nem por seus contemporâneos. Eles conheciam o que seus olhos viam — mas como exatamente eles enxergavam? Como o sangue coagula? Como o corpo combate a doença? As estruturas complexas reveladas pelo microscópio eletrônico eram elas mesmas compostas de componentes ainda menores. Quais eram esses componentes? A que se assemelhavam? Como funcionavam?5
5Op. cit., p. 10.
“Como a vida funciona?” não era a única pergunta com que Darwin e seus contemporâneos eram impotentes para lidar. Eles eram incapazes de responder à pergunta: “Como a vida começou?”. Como a primeira célula viva passou de matéria não-viva para viva? Para melhor compreensão da extensão dessa pergunta, Michael Denton ilustra o tipo de complexidade que deve ser esclarecido com relação a uma célula viva. Ele diz:
Para entender a realidade da vida revelada pela biologia molecular, devemos ampliar uma célula um bilhão de vezes até que fique com vinte quilômetros de diâmetro e lembre uma nave espacial gigante [...] O que veríamos seria um objeto com projeto adaptativo e complexidade ímpares. Na superfície da célula, veríamos milhões de aberturas, como portinholas de uma enorme nave espacial, abrindo e fechando-se para permitir o fluxo contínuo de materiais para dentro e para fora. Se entrássemos por uma dessas aberturas, nós nos veríamos num mundo de tecnologia suprema e complexidade desconcertante. Veríamos intermináveis tubos e corredores altamente organizados, que se ramificam do perímetro da célula para todas as direções, alguns que levam ao banco de memória central no núcleo, e outros que montam fábricas e unidades de processamento. O núcleo seria uma vasta câmara esférica de mais de um quilômetro de diâmetro, semelhante a um domo geodésico, em cujo interior observaríamos milhares de cadeias espiraladas de moléculas de DNA, todas muito bem empilhadas, formando uma cadeia organizada. Uma enorme extensão de produtos e de matérias primas seria transportada pelos múltiplos tubos de maneira muito ordenada para as várias fábricas montadas nas regiões externas da célula e dessas fábricas [...] E de fato crível que um processo casual tenha construído uma realidade, cujo menor elemento — uma proteína funcional ou um gene — tenha complexidade além de nossa capacidade criativa uma realidade que é a própria antítese do acaso, que excede em todos os sentidos qualquer coisa produzida pela inteligência humana?6
O que causou a existência da primeira célula simples, uma entidade altamente especializada e complexa? Foi preciso inteligência para produzir a primeira forma de vida? Ou a vida surgiu por meio de forças e processos puramente naturais ao longo de um grande período de tempo? Que critérios devemos utilizar para verificar se a macroevoluçao é um modelo factível para responder pela origem da vida? E o modelo do próprio Darwin?
Se se pudesse demonstrar que existiu algum órgão complexo que possivelmente não tenha sido formado por inúmeras modificações leves e sucessivas, minha teoria entraria em absoluto colapso.7
6Evolution, p. 328, 342.
7On the origin ofspecies, p. 171. Publicado em português com o título Origem das espécies, p. 171.
Vamos procurar demonstrar que a teoria da macroevoluçao é cientificamente improvável no que se refere a justificar a origem da vida, de acordo com os critérios de Darwin. A parte principal de nossa crítica a Darwin virá no próximo capítulo. Antes de examinar de maneira mais aprofundada o modelo macroevolutivo das origens, precisamos estabelecer se existe alguma base para essa teoria no nível molecular. Confiando no conhecimento científico atual da natureza e da função de uma célula, concordamos com Behe, que conclui que a macroevolução é uma ciência “sem fatos”. Para começar, vamos abrir “a caixa-preta de Darwin” e observar mais de perto a estrutura e a função básicas de uma célula viva.
Qual o grau de complexidade de uma célula simples e como ela funciona?
Atualmente acredita-se que a célula é a menor unidade de matéria considerada viva — uma construção minúscula, cujo diâmetro pode medir menos que 0,025milímetros. Primeiramente vamos identificar as várias partes fundamentais da célula e depois vamos falar de suas respectivas funções.
Interiormente às paredes da célula há proteínas (ver a próxima figura), que são os componentes fundamentais de todas as células vivas. Entre as proteínas estão muitas substâncias, como as enzimas, os hormônios e os anticorpos. As proteínas são necessárias para o funcionamento adequado de qualquer organismo. Agora, observe que o núcleo da célula contém o nucléolo e uma molécula essencial chamada ácido desoxirribo- nucléico (dna) . O nucléolo é um pequeno corpo granular, tipicamente redondo, composto de proteína e ácido ribonucléico (rna).
O DNA, combinado com proteína, se organiza em unidades estruturais chamadas cromossomos, que normalmente ocorrem em pares idênticos. A molécula de DNA constitui a infraestrutura de cada cromossomo e é uma molécula simples, muito longa e altamente espiralada, subdividida em subunidades funcionais chamadas genes. O gene ocupa um lugar determinado no cromossomo e incorpora as instruções codificadas que determinam a herança de uma característica específica ou um grupo de características que são transmitidas de uma geração a outra. Ao mesmo tempo, os cromossomos contêm toda a informação necessária para formar uma cópia da célula com funcionamento idêntico.
As células têm duas funções básicas: proporcionar uma estrutura para sustentar a vida e produzir, cópias.exatas de si mesmas de modo que um organismo possa continuar a viver mesmo depois das células originais terem morrido.
Um modo de entender a estrutura e o funcionamento de uma célula é imaginar uma indústria química numa grande cidade (organismo). Essa indústria funciona de tal modo que pega a matéria-prima do ambiente, processa-a e fabrica um produto que pode tanto ser usado em seu ambiente particular (o interior da célula) quanto pode ser enviado para uso em qualquer outro lugar da cidade (o organismo). Essa indústria química é plenamente equipada com uma biblioteca biológica localizada no centro de computação (núcleo da célula), onde estão guardadas as plantas da cidade toda. Essas plantas também contêm um conjunto completo de manuais de instrução, que explicam os passos necessários para a formação e réplica da vida. As plantas e os manuais de instrução são guardados em forma de códigos em cds (DNA) no centro de computação (núcleo da célula).
Para ajudar a visualizar como os vários componentes de uma célula funcionam em conjunto, imagine que a parede (parede celular) circunda a indústria química seja danificada. Um mensageiro (mRNA) é enviado ao centro de computação (biblioteca genética), localizado no núcleo da célula, onde se acham os mapas e as instruções (dna) necessárias para consertar o dano da parede. Em seguida, o mRNA faz uma cópia exata da informação que ele requer do computador e a armazena no CD. Quando o processo de cópia se completa, o mRNA dirige-se ao local onde ocorreu o dano e começa a manufaturar pequenos robôs (moléculas de proteína específica), com base nas informações que copiou, para realizarem o trabalho de reparação da parede. Esta explicação é bem básica, mas nos auxilia a ter um conhecimento fundamental da estrutura e do funcionamento de uma célula.
O próximo passo é investigar um pouco mais a fundo o funcionamento da célula para descobrir mais a respeito do conteúdo de informação armazenado no centro de computação (localizado no núcleo da célula). Um modo de pensar no conteúdo de informação do interior de uma célula é compará-lo a um manual de instrução do tipo que acompanha um artigo para montar.
Muito provavelmente, todos nós tivemos a experiência de ficar frustrados após a compra de algum artigo. Algumas vezes, as instruções que acompanham esses objetos são vagas, o que só aumenta o nível de aborrecimento. A perseverança normalmente é o fator chave da vitória sobre a irritação quando se quer obter a consecução de um projeto. Agora imagine o que você faria se comprasse algo complexo como um computador e descobrisse que tinha de montá-lo? Imagine-se abrindo as caixas com todos os componentes de um computador ainda por montar. Além disso, pense na dor de cabeça que seria entender todas as instruções de montagem desse objeto tão técnico. Mas — o que aconteceria se todas as peças chegassem sem as plantas ou os manuais de instrução? Como você começaria a montá-las? Sem nenhuma informação específica que lhe ensine a técnica de montagem do computador, os componentes em si são inúteis.
Esta analogia é um jeito muito rudimentar de mostrar como as matérias primas sozinhas não produzem um sistema específico e complexo. De modo semelhante, todos os componentes para a vida seriam inúteis sem os projetos e os manuais de instrução para a montagem e o funcionamento correto de uma célula viva. Energia, matéria e tempo não são os únicos ingredientes necessários para compor coisas vivas. A informação também deve estar presente para que a tarefa se realize. Com isso em mente, vamos observar mais de perto o tipo de informação codificada que existe no centro de computação de uma célula.
QUE TIPO DE INFORMAÇÃO CODIFICADA A CÉLULA UTILIZA?
A molécula de DNA é a pedra fundamental de todas as coisas vivas. Ela determina a forma e a função da célula e passa essa informação genética de uma geração a outra fazendo cópias exatas de si mesma. Os sistemas complexos de todo organismo conhecido são reproduzidos e montados com base nas informações armazenadas no sistema molecular do DNA. Uma vez que todo o metabolismo químico é programado pelo código genético, é essencial conhecer o nível de complexidade associado a essa informação genética. Isto significa que a molécula de DNA precisa ser desespiralada para encontrarmos o tipo de informação que existe na célula.
Quando olhamos para o interior do núcleo da célula, vemos que toda a informação genética está armazenada na molécula de DNA. Uma investigação mais aprofundada da molécula de dna mostra que as cadeias de dna estão armazenadas em discos compactos (como os CDs). Essas cadeias de informação do DNA contêm informação específica sobre o organismo. Essa informação foi comprimida e guardada em forma de código (como ilustra a figura abaixo). O código genético consiste de uma seqüência de letras (a, t, c, e g) semelhantes aos blocos de brinquedo decriança, cujos lados, cada um, são estampados com uma dessas quatro letras do alfabeto. Se essas letras estiverem ligadas numa determinada seqüência codificada, poderão ser usadas para formar uma mensagem (conjunto de instruções) que comunica uma ação. Observando os blocos, podemos ler o que se parece com uma mensagem codificada. Lendo as letras da esquerda para a direita e ligando as fileiras de três blocos de cima para baixo, a mensagem é a seguinte: TAG-CAT-ACT.
Essa mensagem pode ser descodificada e significar que é tempo de adquirir a licença (tag) para o gato catito (cat), por isso, aja (act) agora*! Reconhecidamente, esse método de comunicar instruções é muito limitado e vago. Mas imagine o código formado pelas quatro letras — A, T, C, e G — e use certas seqüências específicas e complexas para comunicar um determinado número de idéias ou ordens. Isso pode ficar complicado, mas se um conjunto de regras determinasse que uma certa combinação de letras significa um conceito específico ou uma ação, esse código pode ser utilizado para transmitir uma quantidade enorme e uma variedade ímpar de mensagens.
O Código Morse é um exemplo de um sistema codificado de informações que usa somente duas unidades em seqüências variadas para comunicar mensagens. O Código Morse consiste da combinação de pontos e traços que representam os números e as letras do alfabeto. Da mesma maneira, o alfabeto genético tem somente quatro letras — A, T, c, e G (explicadas mais tarde) —, que são usadas para armazenar e comunicar instruções específicas de forma codificada. No exemplo anterior, explicamos o que acontece com a informação codificada de uma célula. Primeiro, a informação é lida e copiada. Em seguida, é transportada para o local em que determinada tarefa deve ser desempenhada.
Depois a informação codificada deve ser traduzida numa seqüência específica a fim de realizar a atividade exata requerida pela célula. O próximo passo que daremos é examinar o conteúdo da informação da célula e descobrir a natureza dessa informação codificada.
A biologia molecular é essencialmente dependente de uma subdisciplina conhecida como teoria da informação. Essa disciplina é ciência relativamente nova, não existia no tempo de Darwin e nunca foi levada em conta quando Darwin desenvolveu a teoria da macroevolução.
A teoria da informação é indispensável para compreender tudo do que trata a biologia — armazenamento de informações e sistemas de recuperação. Esses sistemas são análogos aos projetos e manuais de instrução que fornecem a técnica de montagem e funcionamento dos mecanismos da vida. Eles especificam o que fazer e como fazê-lo, exatamente como o programa faz para o computador.
Todo programa de computador é escrito numa linguagem de programação que emprega um código consistente de duas unidades, um e zero. O computador foi projetado para responder especificamente a combinações determinadas desses números Por exemplo, a seqüência 111001100111 comunicaria uma certa mensagem lingüística de acordo com a qual o computador deve proceder, segundo seu projeto. Entretanto, esse código deve ser estabelecido com regras específicas a fim de que o sistema funcione devidamente. O programador deve criar uma linguagem, juntamente com um conjunto de regras que controlam o sistema, o que garantirá o funcionamento preciso do computador.
Agora imagine que tenhamos recebido a tarefa de decifrar o código utilizado por um determinado computador. Se conseguíssemos decifrar o código e entender como sua linguagem funciona, seriamos também capazes de ter alguma idéia de como é a mente do programador original. A complexidade da linguagem usada por um computador é diretamente proporcional ao tipo de mente que criou o sistema de informação codificada. O mesmo é verdadeiro para o conteúdo de informação do código genético e da linguagem de uma célula viva. Uma vez decifrado o código e resolvida sua complexidade, seriamos capazes de discernir se o conteúdo de informação do código genético teve um programador original inteligente, ou se o código veio a existir por um processo do acaso.
Como funciona o sistema de informação molecular do DNA?
A molécula de DNA é uma molécula simples, bastante longa e altamente espiralada que pode ser subdividida em subunidades funcionais chamadas genes. Os genes que contêm a informação codificada que vimos discutindo consistem de unidades ainda mais minúsculas conhecidas como nucleotídeos. Nucleotídeo é o nome técnico da menor unidade (letra) do código genético. Sozinho, um nucleotídeo não transmite nenhuma informação. Mas se alguns nucleotídeos são enfileirados em seqüência precisa ou cadeia, semelhante ao exemplo de 111001100111 da linguagem de computador, as letras passam a construir mensagens específicas em forma de código. Em 1952, dois geneticistas, James D. Watson e Francis H. Crick, descobriram que as partes da molécula de DNA se encaixam de maneira específica. Essa configuração precisa da molécula do DNA ficou conhecida como código genético. Dez anos depois dessa a descoberta, o código genético foi decifrado e provou ser correto de acordo com os princípios da biologia. Em outras palavras, verificou-se empiricamente que as partes do código genético, representadas pelas letras A, T, c, e G, somente se encaixam em seqüências determinadas que especificam os projetos e o manual de instruções para todas as coisas vivas.
Watson e Crick descobriram que a estrutura de uma molécula de DNA tem a forma de uma hélice dupla que lembra uma longa escada de corda espiralada. Se fôssemos capazes de desenrolá-la veríamos as laterais e os degraus dessa escada. As laterais da escada de corda são compostas de seções alternadas de moléculas de açúcar e moléculas de fosfato. Os degraus da escada carregam a informação genética (código genético) e são feitos de quatro bases que contêm nitrogênio: adenina (a), timina (t), citosina (c), e guanina (g). As travessas dos degraus da escada são feitas de um nucleotídeo que se liga com uma base complementar do lado oposto da travessa.
Adenina (a), por exemplo, sempre se liga com timina (t), e citosina (c) sempre se liga com guanina (g). Conseqüentemente, cada degrau da escada de corda consiste de duas bases e há somente duas combinações possíveis para cada degrau: a/t e c/g, o que eqüivale a dois nucleotídeos por degrau. Cada nucleotídeo é uma subunidade de molécula do DNA e contém fosfato, açúcar e qualquer uma das quatro bases nitrogenadas.
A ordem específica dos nucleotídeos determina o código genético para cada um de nós. Esse código pode parecer bem insignificante, mas é o meio pelo qual tudo que é vivo funciona no nível molecular. Para entender melhor, vamos observar o que acontece durante o processo de cópia.
O DNA de uma forma específica de vida tem a responsabilidade de designar essa forma de vida e suas funções. Também designa a informação genética que será transmitida de uma geração para a próxima fazendo cópias exatas de si mesma. O termo técnico para esse procedimento é replicação. Um modo de imaginar o processo de reprodução do DNA é desenrolar (ou destorcer) a escada de corda a que nos referimos e separar os pares de letras (nucleotídeos). E essa seqüência de letras que determina o código genético singular de cada indivíduo. Uma vez que a molécula do DNA é descondensada e desespiralada, podemos observar cada par de letras (par de bases) e sua conformação particular. Essas conformações, ou cadeias de informação, são extremamente importantes porque determinam as características de um organismo particular. Conseqüentemente, o processo de cópia deve ser um funcionamento preciso.
No estágio 1, os pares de bases puxam de uma das extremidades da escada do DNA (a), separando as bases (b). Em seguida, no estágio 2, os pares de bases desligados da escada do DNA original reagrupam-se com os nucleotídeos livres (c) e formam uma cópia exata do original (d). A adenina liga-se com a timina (a/t), e a citosina com a guanina (c/g) até resultar em duas moléculas de dna idênticas. Isso completa o processo de cópia, e a divisão da célula está pronta para iniciar. A área de investigação a seguir tem a ver com o nível de complexidade da informação que existe dentro do sistema molecular do DNA.
A figura a seguir ilustra o processo de replicação.
Que tipo de informação se armazena na molécula de DNA?
Já sabemos que o código genético consiste de quatro letras, A, T, C, e G. Agora precisamos entender qual o grau de complexidade do código genético a fim de determinarmos se ele é um subproduto aleatório de forças puramente naturais. Energia, matéria e tempo simplesmente, nada mais, podem produzir o tipo de organização encontrado no código genético? Vejamos o que os biólogos moleculares encontraram quando decifraram o código genético.
Como se mencionou anteriormente, a teoria da informação, subdisciplina da biologia molecular, procura descrever os dados armazenados e os sistemas recuperados das entidades biológicas. O tipo de informação que compõe o código genético, segundo se descobriu, é classificado pelos biólogos moleculares como equivalente ao de uma língua escrita. O cientista da informação Hubert P. Yockey explica:
A estrutura estatística de qualquer linguagem impressa apresenta-se num leque de freqüências de letras, digramas, trigramas, freqüências de palavras etc., regras de ortografia, gramática e assim por diante. Portanto, pode ser representada por um processo de Markov dado os estados do sistema [...] E importante entender que não estamos raciocinando por analogia. A hipótese de seqüência aplica-se diretamente à proteína e ao texto genético tanto quanto à linguagem escrita e, portanto, o tratamento é matematicamente idêntico.8
8Self-organization, origin-of-life scenarios and information theory, p. 16. Processo Markov é uma expressão usada em estatística. Preocupa-se em analisar uma sucessão de eventos dentro de certos parâmetros, cada um dos quais determinado pelo evento imediatamente precedente. O processo tem esse nome por causa do matemático russo Andrei Markov (1856-1922).
Yockey está dizendo que falar a respeito do código genético como sendo a linguagem da vida não é mera analogia. A importância indescritível dessa descoberta é que a célula tem uma linguagem própria, plenamente equipada com regras — equivalente a uma língua escrita — que controlam seu modo de comunicar-se. Numa obra mais recente, Yockey explica que a teoria da informação demonstrou que há uma correspondência biunívoca (um a um), isomorfismo,9 entre o sistema lógico do texto genético, de um lado, e os sistemas de comunicação, computadores e sistemas da lógico-matemáticos de outro lado. Yockey diz,
O princípio básico segundo o qual operam os computadores é o da máquina de Turing (Turing 1937). [Alan Mathison] Turing concebeu o modelo abstrato de uma máquina de computação para resolver problemas de fundamentos da matemática [...] Turing imaginou uma máquina abstrata na qual uma mensagem ou seqüência é registrada numa fita de saída, que poderia não ter peso nenhum e ter comprimento infinito. Na terminologia de computador essas mensagens ou seqüências são chamadas seqüências de bits porque se expressam numa seqüência do alfabeto (0,1) [...] Há um cabeçote de leitura, que pode mover-se tanto para ler os dados que entram como os que saem, que interage com um número finito de condições internas. Essas condições são chamadas de programa na tecnologia moderna de computadores.O programa executa suas instruções da mensagem lida da fita, e a máquina pára quando o programa foi executado.
A lógica das máquinas de Turing [computadores] tem isomorfismo [relação biunívoca] com a lógica do sistema de informação genética. A fita de entrada é o DNA, e a seqüência de bits registrada é a mensagem genética. As condições internas são o tRNA, mRNA [...] e outros fatores que implementam o código genético e constituem o sistema lógico genético. A fita de saída é a família das proteínas especificadas pela mensagem genética registrada no DNA. Há também isomorfismo entre a informação das instruções da fita da máquina de Turing e a informação da lista dos axiomas das quais os teoremas são provados. Sem observar esses isomorfismos, as propriedades correspondentes pareceriam sem conexão nenhuma. Mas em cada um desses quatro casos um tem uma fonte de informação, uma transmissão de informação, um conjunto de instruções ou tarefas a ser completadas e uma saída.10
9Yockey emprega o termo isomorfismo no sentido matemático, uma correspondência biunívoca (um a um) entre os elementos de dois conjuntos de forma que o resultado de uma operação sobre os elementos de um conjunto corresponde diretamente ao resultado da operação das imagens deles no outro conjunto. Isto é indicativo de uma relação direta de causa e efeito.
A obra de Yockey utiliza os conceito e princípios desenvolvidos nos sistemas de comunicação e nos computadores para demonstrar a aplicabilidade direta deles aos problemas encontrados na biologia molecular. Por essa razão, conforme a teoria da informação, o sistema genético lógico de informação corresponde diretamente aos sistemas lógicos usados na tecnologia de computadores.
Para melhor compreender a correspondência biunívoca entre uma língua escrita e a linguagem do sistema de informação do DNA, vamos a dois pesquisadores, Lane P. Lester e Raymond G. Gohlin, que oferecem a seguinte explicação:
O dna das células vivas contém informação codificada. Não é de surpreender que muitos dos termos usados na descrição do DNA e de suas funções sejam termos correspondentes a uma língua. Falamos de código genético. O dna é transcrito em rna. O rna é traduzido em proteína. A proteína, em certo sentido, é codificada numa língua estrangeira para o dna. O RNA pode ser considerado um dialeto do dna. Essas designações não são apenas convenientes nem apenas antropomorfismos. Elas descrevem com precisão o caso [...] O código genético é composto de quatro letras (nucleotídeos), organizadas em 64 palavras de três letras cada uma (trigêmeas ou códons). Essas palavras são organizadas em seqüência para produzir sentenças (genes). Diversas sentenças relacionadas são enfileiradas e formam os parágrafos (óperons). Dezenas ou centenas de parágrafos compõem capítulos (cromossomos), e um conjunto total de capítulos contém toda a informação necessária para um livro (organismo) pronto para ser lido.11
10Information theory and molecular biology, p. 87-8.
nThe naturallimits to biologicalchange, p. 86 (grifo do autor).
Que espécie de causa pode ser responsabilizada pelo tipo de ordem especializada e informação complexa encontrada no sistema genético lógico?
Um meio de responder a essa pergunta é saber o que estamos querendo dizer quando dizemos que alguma coisa é viva.
Quando a matéria não-viva se transforma Em organismo vivo?
Já aprendemos que a segunda lei da termodinâmica resulta num alto nível geral de desordem no universo com o passar do tempo. Naturalmente, a função inversa dessa lei (1 dividido pela segunda lei ou 1/ entropia) produz altos níveis globais de ordem à medida que o tempo passa. Essa função recíproca da segunda lei da termodinâmica é chamada de lei da especificidade. Com respeito à informação (não energia), essa lei é análoga a fazer uma viagem de volta no tempo para obter o sistema no seu estado original altamente organizado.
No seu livro The philosophical scientists [Oí cientistas filósofos], David Foster explica essa relação:
A decadência do universo e a sua ascendência dependem da mesma matemática geral com uma relação inversa ou não. Temos concordar com Eddington que a Segunda Lei da Termodinâmica é uma lei importante da natureza. Mas percebemos que ela é somente metade da provável verdade e que tem seu complemento numa espécie de Lei da Especificidade, que é o seu anverso que usa a mesma matemática geral.12
12P. 41.
Quando estudamos biologia, não demora muito encontrar a palavra espécie. A escolha desse termo, em oposição a qualquer outro, se baseia na lei da especificidade. Por sinal, é essa lei que dá aos biólogos a diferenciação clara entre a matéria não-viva e a viva. Essa distinção essencial foi resumida pelo famoso biólogo Leslie Orgel:
"os organismos vivos são distinguidos pela complexidade especificada. Os cristais [...] não podem ser qualificados de vivos porque lhes falta complexidade, misturas ao acaso de polímeros não podem ser qualificadas de vivas porque lhes falta especificidade,13
13 The origins of life, p. 189 (grifo do autor).
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Um livro vivo
O Código genético (quatro nucleotídeos) letras arranjadas em 64 trigêntaas ou códons — palavras Organizadas em seqüência para produzir genes— sentenças organizadas conjuntamente para formar óperons — parágrafos combinados paro formar cromossomos capítulos compilados para completar um organismo vivo — livro.
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Em outras palavras, quando observamos o tipo de ordem encontrado nos cristais de um pedaço de quartzo, verificamos que ele tem características redundantes — como uma mensagem: “cat, cat, cat, cat” —, mas lhe falta complexidade. Uma cadeia de polímeros aleatórios (polímeros são pequenas moléculas ligadas para formar uma macromolécula, como uma proteína ou ácido nucléico) tem uma natureza complexa, mas lhe falta especificidade, pois não tem função nem contém nenhuma mensagem e poderia se apresentar da seguinte forma “ag tctt actgg ttcc”.
Porém, a complexidade especificada tem o tipo de ordem que comunica uma mensagem, ou funciona, como, por exemplo, esta: “esta sentença comunica uma mensagem e mostra a complexidade especificada de um organismo vivo”. Desse modo, os cristais de um pedaço de quartzo são especificados, mas não complexos. As misturas aleatórias de polímeros são complexas, mas não especificadas. A vida é essencialmente distinta da matéria não-viva: é ao mesmo tempo especificada e complexa.
As forças naturais sozinhas, portanto, podem causar esse tipo de complexidade específica? Qual é a diferença entre o processo aleatório produzir ordem e a inteligência produzir ordem altamente especificada e complexa?
QUE TIPO DE CAUSA PRODUZ COMPLEXIDADE ALTAMENTE ESPECIfICADA?
A ilustração a seguir é minha (Geisler) versão modernizada do famoso “argumento do relojoeiro”, de William Paley, à luz da biologia molecular moderna e Da teoria da informação. Deliberadamente tomo emprestados o formato e a linguagem de Paley para atingir o objetivo.
Suponha que ao atravessar um vale eu chegue a uma pedra estratificada redonda e me perguntem como ela veio a ser do jeito que é. Eu poderia responder plausivelmente que ela foi depositada ali pela água em camadas, que mais tarde se solidificaram por ação química. Um dia desprendeu-se de uma seção maior da rocha e posteriormente foi arredondada pelo processo erosivo das acrobacias pela água. Suponha que depois eu ande um pouco mais e chegue ao monte Rushmore, onde as formas dos quatro rostos aparecem esculpidas num rochedo de granito. Mesmo que eu não soubesse nada sobre a origem daquelas faces, não pensaria imediatamente que aquilo é uma produção inteligente, não o resultado do processo natural da erosão?
Por que, então, uma causa natural serve para a pedra mas não para os rostos de granito? Por esta razão, a saber, quando inspecionamos os rostos do rochedo, percebemos — o que não conseguiríamos perceber na pedra — que eles manifestam um plano inteligente, transmitem informação de especificidade complexa. A pedra tem padrões redundantes ou camadas facilmente explicáveis pela observação do processo natural de sedimentação. Os rostos, por outro lado, têm aspectos especificamente formados, não linhas meramente repetidas. A pedra tem aspectos arredondados iguais aos que se observam no resultado da erosão natural. Os rostos, por sua vez, têm aspectos nitidamente definidos, contrários aos provocados pela erosão. Por sinal, os rostos lembram coisas conhecidas feitas por artesãos inteligentes. Essas diferenças observadas nos levariam à conclusão correta de que deve ter havido em algum momento e em algum lugar uma inteligência que as formou.
Creio que não enfraqueceria a conclusão se jamais tivéssemos visto esses rostos serem esculpidos no granito, se nunca tivéssemos conhecido um artesão capaz de fazer um rosto, nem se nós próprios fôssemos totalmente incapazes de executar esse trabalho. Tudo isso não é mais do que a verdade a respeito de alguma arte perdida ou de algumas das mais curiosas produções da tecnologia moderna.
Nem, em segundo lugar, invalidaria nossa conclusão se, num exame mais detido dos rostos, eles se mostrassem esculpidos imperfeitamente. Não é necessário que uma representação seja perfeita para mostrar que foi intencional.
Nem, em terceiro lugar, traria incerteza ao argumento se não fôssemos capazes de reconhecer a identidade dos rostos. Mesmo que jamais tivéssemos conhecido as pessoas retratadas, ainda concluiríamos que foi necessário inteligência para produzi-las.
Nem, em quarto lugar, qualquer homem em seu juízo perfeito pensaria que a existência dos rostos sobre a rocha se explicasse informando-se a eles que são algumas das muitas combinações possíveis ou formas que as rochas podem ter e que tanto podia ser exibida essa configuração quanto uma estrutura diferente.
Nem, em quinto lugar, traria mais satisfação a nossa pesquisa receber como resposta o fato de existir no granito uma lei ou princípio de ordem que lhe deu aspectos de rostos. Nunca tivemos notícia de uma escultura feita por esse princípio de ordem, nem sequer podemos formar alguma idéia do significado desse princípio de ordem à parte de uma inteligência.
Em sexto lugar, ficaríamos surpresos de ouvir que uma configuração como essa sobre uma montanha não é prova de uma criação inteligente, mas somente uma indução da mente a pensar assim.
Em sétimo lugar, ficaríamos não menos surpresos de ser informados de que aqueles rostos resultaram simplesmente do processo natural de erosão do vento e da água.
Nem, em oitavo lugar, nossa conclusão mudaria se descobríssemos que certos objetos e forças naturais tenham sido utilizados na produção dos rostos. Ainda assim o manejo dessas forças, apontá-as e dirigi-las para formar rostos tão específicos demanda inteligência.
Nem, em nono lugar, faria a menor diferença em nossa conclusão se descobríssemos que essas leis naturais foram estabelecidas por algum Ser inteligente. Porque nada se acrescenta ao poder das leis naturais colocando um Projetista original para elas. Projetados ou não, os poderes naturais do vento e da erosão da chuva nunca produzem faces humanas como essas no granito.
Nem, em décimo lugar, a questão mudaria se descobríssemos que por detrás da fronte de um rosto de pedra houvesse um computador capaz de reproduzir outros rostos em outros rochedos íngremes vizinhos por meio de raios laser. Isso seria apenas um acréscimo ao nosso respeito pela inteligência que projetou esse computador.
E, além do mais, se descobríssemos que esse computador foi projetado por outro computador ainda não desistiríamos de nossa crença numa causa inteligente. Naturalmente, teríamos admiração ainda maior pela inteligência exigida para criar computadores também capazes de criar.
Ademais, não acharíamos esquisito se alguém propusesse que não há necessidade de uma causa inteligente porque pode haver uma regressão infinita de computadores projetando computadores? Sabemos que aumentar o número de computadores em série não diminui a necessidade de uma inteligência para projetar a totalidade da série. Nem permitiríamos limitação nenhuma em nossa conclusão (que é preciso uma inteligência para criar essa informação especificada e complexa) por causa de uma declaração de que esse princípio se aplica somente a eventos do passado próximo, mas não do passado mais remoto. Pois o que é remoto para nós era próximo daqueles que são remotos de nós.
E não consideraríamos arbitrário alguém insistir que a palavra ciência se aplica ao nosso raciocínio somente se presumirmos que os rostos tiveram uma causa natural, como a erosão, por exemplo, mas não se aplica se concluirmos que tiveram uma origem inteligente? Pois quem insistiria que um arqueólogo age cientificamente apenas quando pressupõe uma causa natural, não-inteligente dos objetos e da cerâmica antigos?
Por último, nem nos afastaríamos de nossa conclusão ou nossa confiança nela se nos disserem que não sabemos coisa nenhuma a respeito de como os rostos foram produzidos. Sabemos o suficiente para concluir que houve inteligência para produzi-los. A consciência de sabermos pouco não precisa gerar desconfiança daquilo que sabemos. E, com efeito, sabemos que as forças naturais nunca produzem esses tipos de efeitos. Sabemos que os rostos na rocha manifestam uma forma tal que só podem ter sido produzidos pela inteligência. Pois como William Paley observou: “Onde quer que vejamos as marcas de planejamento, somos conduzidos por sua causa a um autor inteligente. E essa transição do conhecimento se encontra na experiência uniforme.”
Suponha também que estudando a estrutura genética de um organismo vivo, descubramos que seu DNA possui um código de informação singular altamente complexo, distinto por sua complexidade especificada. Suponha também que observemos que esse organismo vivo é distinto por sua complexidade especificada [...] Imagine que descubramos que a informação das células vivas segue os mesmos padrões de combinações das letras usadas pelos seres inteligentes para comunicar essa informação [...] Observando tudo isso, não concluiríamos que muito provavelmente foi necessário inteligência para produzir um organismo vivo? E não chegaríamos a essa posição com o mesmo grau de confiança com que concluímos que foi necessário transmitir informação à rocha para adquirir a forma especificamente complexa da face humana?
Qual é a base da confiança de que é necessário inteligência para originar essa informação? Não é nossa experiência uniforme? Não é verdade, para citar David Hume, que “uma experiência uniforme eqüivale a uma prova, [de forma que] aqui uma prova direta e plena da natureza do fato”.14
14V. An enquiry concerning human understanding, p. 123.
Em resumo, nossa convicção na grande probabilidade de que a inteligência tenha produzido os vários códigos complexos de informação dos seres vivos não está baseada no princípio científico da uniformidade — “o presente é a chave para o passado”?
E uma vez que não observamos a origem das coisas vivas, não segue que nossas especulações a respeito desses eventos passados sejam inteiramente dependentes da confiabilidade do princípio da uniformidade (analogia)? Mas em vista do fato de que nossa experiência indica uniformemente a necessidade de inteligência para criar tal informação, a hipótese da causa natural não-inteligente das coisas vivas não é contrária ao princípio da uniformidade sobre o qual o conhecimento científico dos eventos passados depende?15
15 Norman L. Geisler e J. Kerby Anderson, Origen Science: aproposal for the criation-evolution controversy, p. 159-64.
Sim, a ciência afirma repetidas vezes que sempre se é necessária inteligência para produzir a complexidade especializada encontrada em qualquer entidade viva. Não há nenhuma lei científica ou evidência da observação que dê suporte à idéia de que a informação altamente específica e complexa de uma célula seja produzida por leis naturais.
Por que as forcas da natureza não podem ser responsáveis pela origem da vida?
A tabela abaixo fornece algumas ilustrações da distinção entre fatos causados por leis naturais e fatos causados por projeto inteligente. A coluna da esquerda arrola exemplos de objetos que exibem características produzidas por forças naturais não-inteligentes, e a coluna da esquerda mostra exemplos de objetos que apresentam ordem altamente especializada e complexa sempre mostrada como conseqüência de uma ação inteligente.
A pergunta a que devemos responder para nós mesmos é: “Os resultados de uma enorme explosão natural da magnitude do big-bang, entregues a si mesmos por um longo período de tempo, podem produzir o tipo de ordem altamente especializado e complexo encontrado num organismo, sem a orientação de uma inteligência?”.
As evidências da observação repetida confirma fortemente que sempre é necessário inteligência para produzir a ordem altamente especializada e complexa que existe nos organismos vivos. A matéria não-viva e os organismos vivos podem utilizar a mesma construção básica molecular, mas a essência diferente delas se encontra na mensagem daqueles blocos de quando foram ligadas de uma maneira altamente especializada e complexa (código genético).
Voltando à ilustração das bolinhas de gude do capítulo 5, perguntamos: “Qual a probabilidade de que tempo, energia e forças naturais (aleatórias) sozinhos tenham organizado essas bolinhas de modo a expressar nos mínimos detalhes a palavra código num contexto de tantas outras possibilidades?”. Essa mesma pergunta se aplica à ordem altamente especializada e complexa que encontramos nos organismos vivos. Para dizer a verdade, seria interessante considerar o nível de improbabilidade associado à teoria de que a vida pode ter surgido meramente em conseqüência da ação do tempo, da energia e das forças naturais.
Os cientistas usam a segunda lei da termodinâmica para medir o nível de desordem (entropia) de um sistema. A função recíproca, a lei da especificidade (1 /entropia), também é usada para medir o grau de ordem (especificidade) produzida num sistema.
Qual é o nível de improbabilidade de geração do tipo de ordem encontrada nos organismos vivos sem a intervenção da inteligência, contra um pano de fundo de outras possibilidades?
Consideremos dois fatores que afetam a resposta a essa pergunta. O primeiro é o tempo que havia disponível para esse processo ocorrer. O segundo é a probabilidade associada com a idéia de que a vida pode ter surgido como conseqüência das forças naturais aleatórias sozinhas. David Foster nos ajuda com a questão do tempo:
Especificidade é a medida da improbabilidade de um padrão que de fato ocorre contra um pano de fundo de alternativas [...] Imaginemos que haja um maço de 52 cartas bem embaralhadas sobre a mesa, com as faces viradas para baixo. Quais são as chances de pegar todas as cartas na seqüência correta de naipes começando com (digamos) o ás de espadas e descendo, e depois, passando pelos outros naipes, terminar (digamos) com o dois de paus? Bem, a probabilidade de pegar a primeira carta corretamente é de 1 em 52, a segunda, de 1 em 51, a terceira 1 em 50, a quarta 1 em 49, e assim por diante. Desse modo, a probabilidade de pegar todo o maço corretamente é o fatorial de 52 (i.e., 52!), o que eqüivale a uma chance em (cerca de) 10. Este número se avizinha do de todos os átomos do universo [...]
O número de segundos daqui para trás até a data estimada do Big-bang é 4 x 1017 (digamos 1018).
O número de átomos do universo: 1080
O número de fótons do universo: .1088
O número de estrelas do universo: 1022
O número de comprimentos de ondas de luz para atravessar o universo: 2 x 1033.16
16 David Foster, Thephilosophical scientists, p. 39-40, 81.
Se alguém acreditasse que o universo tem aproximadamente a idade de 1018 segundos, qual a probabilidade de as forças naturais produzirem vida? Usando a lei da especificidade, a probabilidade de surgir vida das forças naturais sozinhas foi considerada seriamente tanto por matemáticos como por astrônomos.
Os matemáticos, envolvidos pela natureza estatística do problema, negaram a possibilidade de mutações mínimas aleatórias produzirem complexidade e novidade biológica. Usando computadores, o matemático Mareei Schutzenberger, descobriu que as probabilidades contrárias à melhoraria da informação significativa por mudanças aleatórias são de 101000. Os astrônomos Fred Hoyle e Chandra Wickramasinghe calcularam a probabilidade de a vida se originar da não-vida em 1040000, e a probabilidade de complexidade aumentada surgir pelas mutações e pela seleção natural aproxima-se desse número.17
17 The natural limits to biological change, p. 86.
As conclusões científicas devem basear-se na probabilidade. Na melhor das hipóteses, as conclusões científicas dependem de um nível de probabilidade de uma certa causa produzir um certo efeito. Se fôssemos considerar a probabilidade de a vida ter surgido sem causa inteligente, seriamos forçados a nos apartar da esfera da ciência. O número 1040000 é inimaginavelmente maior do que o número de átomos do universo conhecido (1080). Portanto, a probabilidade de a vida ter surgido por acaso é muito menor que a probabilidade de encontrar um determinado átomo no universo inteiro. Ora, se os modelos científicos devem ser construídos sobre os mais altos graus da probabilidade, e 1/101000-40000 de potência está na esfera da impossibilidade, então acreditar que isso é verdadeiro é ir além do escopo da ciência! A regra prática da física é que uma vez que a probabilidade de um evento desce abaixo de 1/1050 , ele entrou na esfera do impossível!
A quantidade de números envolvidos nas probabilidades mencionadas acima é difícil de imaginar. Michael Denton pode ajudar-nos a compreender a ordem de grandeza delas.
Os números da ordem de 1015 estão, naturalmente, totalmente além da compreensão. Imagine uma área de cerca de metade do tamanho dos Estados Unidos (um milhão de milhas quadradas) coberta por uma floresta com dez mil árvores por milha quadrada. Se cada árvore contivesse dez mil folhas, o número total de folhas dessa floresta seria de 1/1015 equivalente ao número de conexões no cérebro humano!18
18 Evolution: a theory in crisis, p. 330.
Para crermos que forças puramente naturais podem ter produzido o tipo de ordem altamente especializada e complexa, mencionada anteriormente, teríamos de ter uma fé totalmente cega! Além disso, à luz da ciência da teoria da informação, seriamos forçados a rejeitar as conclusões descobertas nesse campo, que confirmam a necessidade de haver uma causa inteligente para a vida. Por estas razões, rejeitamos a idéia de que a vida pode ter surgido de matéria não-viva por ação de forças naturais somente.
Como a teoria da informação confirma uma causa inteligente?
Na verdade, é de má fé lançar o argumento de uma causa inteligente da vida em termos de probabilidade, pois a teoria da informação e a biologia molecular verificaram que o código genético de uma célula viva (a, t, C e g) é matematicamente idêntico a uma língua escrita. Portanto, podemos imaginar como característica sua ter limites, ou condições, impostos inteligentemente da mesma maneira que um autor que usa letras específicas para escrever um livro.
Todos os tipos de livros utilizam as mesmas letras do alfabeto, mas comunicam idéias radicalmente diferentes. Por exemplo, o mesmo autor pode escrever um livro sobre ética e outro sobre ciência. Ambos consistem do mesmo material (papel e tinta), mas as mensagens são distintamente diferentes. A discrepância essencial entre os dois livros está no modo que o autor especifica que letras do alfabeto usar para dar significado às palavras e na ordem delas (limites especificados).
Em seguida, as palavras são associadas umas às outras pela mente do autor para formular sentenças. As sentenças são construídas de tal modo que formam parágrafos. Quando foi escrito um número suficiente de parágrafos, surge um capítulo. Finalmente, os capítulos compilados produzem um livro sobre ética. Cada passo ao longo do caminho requer que autor a manipule com inteligência as letras e a organização das palavras, sentenças, parágrafos e capítulos impondo condições de limites especificados aos materiais escritos. Contudo, quando o mesmo autor escreve um livro sobre ciência, o processo, as regras de ortografia e princípios de gramática são os mesmos, mas o autor deve usar a inteligência para especificar condições de limites diferentes.
Condição de limite é uma restrição no funcionamento da natureza. É uma expressão que tem uma longa história de uso na física. Na teoria da informação, o equivalente de condição de limite é a expressão complexidade especificada. O que é de importância crítica em comunicação não é a instrumentalidade (meio) nem o material que está sendo usado para comunicar, mas as condições de limite associadas ao material.
Considere os efeitos obtidos por um piloto da esquadrilha da fumaça que impõe um limite à fumaça controlando-lhe a saída inteligentemente. Nenhum limite físico é imposto. O único limite imposto à fumaça é o limite de pensamento. Em outras palavras, o material em si não impõe seus próprios limites — um agente inteligente os impõe ao material. Na rocha do monte Rushmore também foi imposto um limite pelo pensamento a fim de formar as faces dos presidentes ali. Igualmente, uma condição de limite de pensamento precisaria ser imposta sobre a areia da praia se quiséssemos escrever uma mensagem como, por exemplo, “não foi necessária nenhuma inteligência para escrever esta mensagem”. Em cada caso, a condição de limite teve sua origem no pensamento inteligente e, em seguida, foi imposta ao material inerte, seja fumaça, pedra ou areia.
Dois pontos surgem da discussão a respeito das condições de limite e da complexidade especificada. Primeiro, num sistema de comunicação como um livro, a condição de limite em si é o que interessa. Em outras palavras, a comunicação é a condição de limite, e a comunicação dependente do meio pelo qual é transmitida. A comunicação é a mesma quer seja escrita no papel, quer na pedra, quer na areia, quer com fumaça no céu. O meio, contudo, afeta o grau de permanência. O segundo ponto que surge da discussão é o da complexidade especificada e das condições do tipo de comunicação, que se sabe empiricamente surgem pela configuração inteligente da matéria, isto é, pela causa primária eficiente.19
19Norman G. Geisler &J. Kerby Anderson, Origin science, p. 141-2.
A ciência operacional confirma que a complexidade especificada associada a elementos como livros, por exemplo, se deve a causas inteligentes. Jamais se demonstrou que livros resultam de explosões em gráficas! Aqui reside o problema essencial para quem crê que a matéria, o tempo e as forças naturais representam a única realidade no universo. Um cientista descreveu o modelo macroevolutivo puramente naturalista da origem da vida como
uma tentativa de explicar a formação do código genético com os componentes químicos do DNA sem a ajuda de um conceito genético (informação) que tem origem fora das moléculas dos cromossomos. Isso é comparável a supor que o texto de um livro se origina das moléculas do papel sobre o qual as sentenças aparecem, não de alguma fonte externa de informação (externa, a saber, às moléculas do papel) [...] Conseqüentemente, o “Livro da Vida” genético, a informação genética, origina-se supostamente do “papel” sobre o qual ele é escrito — os nucleotídeos, as bases, e os aminoácidos que compõem o dna. Acredita-se que o acaso tenha sintetizado essa informação na matéria. 20
20A. E. Wilder-Smith, The naturalsciences know nothing ofevolution, p. 4-5.
É tempo de conduzir esta discussão a um fim e decidir se a origem da vida ocorreu como resultado das forças naturais sozinhas ou por um projeto inteligente. Cremos que a explicação macroevolutiva da origem do texto genético viola as leis e as evidências da observação da ciência. Como se afirmou anteriormente, ao estudar o conteúdo de informação da molécula de dna, descobre-se que há termos muito específicos usados para descrever essa molécula e sua função. Quando os biólogos moleculares usam palavras como informação, tradução de código e programa, não estão usando palavras que qualquer indivíduo pode associar ao conceito de inteligência? Inteligência é um termo usado para significar a capacidade de raciocinar e compreender e formas semelhantes de atividade mental. Se for esse o caso, que tipo de inteligência conheceria a técnica necessária para produzir a complexidade especificada de vida?
QUE TIPO DE CAUSA INTELIGENTE PR03ET0U 0 CÓDIGO GENÉTICO?
O programa de Pesquisa de Inteligência Extraterrestre (seti) da NASA incentivou o uso de grandes radiotelescópios objetivando o espaço mais longínquo. O propósito do SETI é receber algum tipo de transmissão (comunicação). Carl Sagan disse:
A recepção de uma simples mensagem do espaço mostraria que é possível viver através dessa adolescência tecnológica. Afinal, a civilização que transmitiu sobreviveu. Um conhecimento assim, acredito, deve valer muito.21
2lBocca 's Brain, p. 322 (grifo do autor).
Uma simples mensagem do espaço distante, mesmo uma frase, seria prova suficiente para cientistas do peso do falecido Carl Sagan concluírem que uma vida inteligente a tenha causado. Pelo mesmo tipo de raciocínio, pode-se também concluir que a origem do código genético descoberto na primeira célula viva teve uma causa inteligente. Afinal, a conclusão seria até mais provável se o conteúdo da informação da primeira forma de vida fosse maior que uma simples mensagem do espaço. Essa idéia nos induz a perguntar: “Qual a quantidade de informação existente na primeira forma de vida de uma simples célula?”.
A teoria da informação nos diz que o DNA e suas funções são matematicamente idênticos a uma língua escrita. Mas qual a quantidade de informação existente numa simples célula, o tipo de célula primitiva que estamos investigando? O ateu Richard Dawkins, professor de zoologia da Universidade de Oxford, reconheceu que Cada núcleo [de célula] [...] contém um banco de dados digitalmente codificados maior em conteúdo de informação que todos os trinta volumes da Enciclopédia Britânica. E esse número se refere a cada célula, não a todas as células de um corpo juntas [...] Algumas espécies das injustamente chamadas amebas “primitivas” têm a mesma quantidade de informação no DNA que mil [volumes da] Enciclopédia Britânica.22
22 The blind watchmaker, p. 17-8, 116. Publicado em português com o título [O relojoeiro cego], p. 17-8, 116.
Explicar a quantidade de informação armazenada numa simples célula independentemente de uma causa inteligente é apenas um aspecto do problema. Considere o tipo de mente necessária para projetar os mecanismos necessários para comprimir e codificar 1 000 volumes de dados para se encaixarem numa área altamente comprimida (menor que 0,025 mm) como a de uma simples célula!
Desse modo, se uma simples célula pode conter até mil volumes de informação altamente complexa e especificada, quanta informação o cérebro humano é capaz de armazenar? Carl Sagan disse que,o conteúdo de informação do cérebro expresso em bits é provavelmente comparável ao número total de conexões entre os neurônios — cerca de cem trilhões, 1014, de bits. Escrita em inglês, essa informação seria capaz de encher vinte milhões de volumes, tantos quantos cabem nas maiores bibliotecas do mundo. O equivalente a vinte milhões de livros está dentro da cabeça de cada um de nós. O cérebro é um lugar muito grande num espaço muito pequeno.23
23Cosmos, p. 230.
O cérebro humano é capaz de armazenar vinte milhões de volumes de informação genética — quantidade inimaginável! Na realidade, essa quantidade é, grosso modo, equivalente à Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Esse tipo de sistema de informação e recuperação [da informação] é o resultado cumulativo de um processo aleatório?
Mencionamos que, segundo Carl Sagan, uma simples mensagem seria suficiente para nos convencer de que uma causa inteligente está por detrás dessa mensagem. Se uma simples mensagem do espaço pode produzir a convicção de que ela teve uma causa inteligente, o que podemos dizer de mil volumes de informação encontrados numa simples célula? O aparecimento da vida sobre a terra foi uma mensagem clara, com a extensão de mil volumes. O que aconteceria se os radiotelescópios da NASA captassem do espaço algumas dúzias de CDs contendo informação equivalente a mil volumes da Enciclopédia Britânica?. Não se reconheceria imediatamente que a causa dessa informação tem de ser inteligente? Claro que sim, e nós também reconhecemos!
Portanto, concluímos que a lei da complexidade especificada, juntamente com os primeiros princípios da uniformidade e causalidade, justifica a convicção de que a origem da vida teve uma causa superinteligente. Uma vez que essa causa superinteligente também fez existir o universo espaço-tempo, ela deve ser mais do que natural. Conseqüentemente, o poder sobrenatural que fez o universo existir, também projetou e criou as primeiras formas de vida e deve ser um Ser sobrenaturalmente inteligente.
QUE MAIS SE PODE SABER A RESPEITO DESSE SER SUPERINTELIGENTE?
Pense novamente na analogia do computador. Os computadores são compostos de dois elementos importantes: hardware e software. O hardware é a parte material de um computador, enquanto o software corresponde à inteligência, o que dá ao computador informação ou instruções. Em relação a nossa pergunta sobre esse Ser superinteligente que projetou e criou o sistema lógico de genética, David Foster observa:
Procurar o “que está por detrás do dna” é como entrar no reino do software. A biologia molecular não consegue encontrar no DNA mais nenhum vestígio de hardware que seja contra a corrente, e uma vez que se sabe que o dna é codificado, não estamos buscando mais fatos físicos, mas funções mentais. Até a invenção dos computadores eletrônicos essa abordagem teria sido considerada pura metafísica, mas a inauguração da arte em computação nos diz que o software é “real” e tão importante quanto o hardware [...] Se agora transferirmos os nossos pensamentos dos computadores feitos pelo ser humano para o “que está por detrás do dna”, temos pouca escolha senão imaginar que há uma correspondência. Ora, “o que está por detrás dos computadores feitos pelo ser humano” não é uma “coisa”, é lógica pura. No DNA vimos a “coisa” ou o hardware da computação natural, mas precisamos inventar um termo para a lógica do sistema, e parece não haver palavra mais apropriada do que LOGOS. Esta palavra grega significa “palavra” ou “razão”, a substância da mente em si mesma.24
24Thephilosophical scientists, p. 88-9 (grifo do autor).
O “quê” por detrás do DNA está ancorado na mente do “quem”, o Logos, por detrás do projeto do sistema de informação do dna. Essa Supermente programou o sistema lógico genético e toda a realidade física. Entretanto, a ciência está limitada ao que pode descobrir a respeito desse Logos. A ciência não pode chegar por detrás do hardware para detectar alguma coisa a mais acerca de como é o software ou seu programador. É da alçada de outras disciplinas fornecer a correspondência com o programador — o Logos. A ciência foi usada para descobrir os três maiores atributos que correspondem a esse Logos — ele é infinitamente poderoso, eterno (fora do tempo) e superinteligente. Uma vez que esse Logos está fora do tempo, podemos também concluir logicamente que ele não está sujeito à mudança temporal porque mudança requer tempo. Portanto, esse Logos deve ser um Ser infinitamente poderoso, inteligente e imutável.
Qual á cosmovisão verdadeira (melhor corresponde à realidade)?
É uma boa ideia rever as conclusões cumulativas tiradas até aqui. O teste metodológico25 usado para descobrir a verdade acerca da realidade se vale do princípio da unidade da verdade (princípio da coerência) e identifica e prioriza os primeiros princípios das disciplinas acadêmicas que compõem as várias partes da lente intelectual. Como as primeiras três partes (primeiros princípios) dessa lente intelectual26 foram montadas correta e coerentemente, observamos uma correspondência entre as conclusões alcançadas e as características mais essenciais da realidade. Essa visão da realidade (cosmovisão) agora passou a ser nossa estrutura interpretativa pela qual os fatos deste mundo podem ser explicados.
25Voltar ao cap. 2 para rever o teste metodológico das declarações de verdade das cosmovisões.
26A lei da não-contradição na lógica, a realidade imutável na filosofia e o princípio da causalidade na ciência.
Em outras palavras, as conclusões retiradas das primeiras disciplinas da lógica, filosofia, cosmologia, biologia molecular e teoria da informação excluíram o ateísmo e o panteísmo como cosmovisões viáveis. Enquanto continuamos a aprender mais acerca da realidade dos primeiros princípios nos capítulos seguintes, devemos também fazer todo esforço para cuidar que a prioridade e a coerência deles estejam protegidas.
Somente as conclusões teístas concordam com os primeiros princípios relacionados à natureza da verdade, à natureza do cosmos e à existência e cognoscibilidade de um Ser (Logos) infinitamente poderoso, inteligente e imutável. Em alguns dos próximos capítulos vamos tratar de assuntos como lei, direitos humanos, mal e ética. Nossa intenção é mostrar que somente o teísmo em geral (e o teísmo cristão em particular) oferece resposta às perguntas levantadas no estudo dessas questões, assim como uma explicação coerente delas. Além disso, vamos apresentar razões por que o ateísmo e o panteísmo violam os primeiros princípios associados a esses assuntos e por que deixam de oferecer respostas válidas às questões levantadas, discutindo-as.
FONTE: FUNDAMENTOS INABALÁVEIS- NORMAN GEISLER -EDITORA VIDA


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